Neil Harbisson é o primeiro humano a ser considerado legalmente como um cyborgue. Isso tudo graças a sua rara deficiência visual, acromatopicia, que o faz enxergar com ausência de cores, tudo em escalas de cinza. Até os 21 anos Neil não conhecia as cores, até que, em 2003, começou um projeto, em cooperação com o cientista da computação Adam Montandom em que criaram o Eyeborg. Um olho eletrônico que, com um sensor de cor, detecta a frequência da que está na frente do usuário. Essa frequência é envidada para um chip instalado na parte de trás cabeça, fazendo com que, através da condução óssea, as ondas sonoras viagem até o sistema auditivo.
Neil Harbisson conta que no começo, além de ficar ouvindo cores o tempo todo, constantemente, o que era um pouco incomodo, teve que decorar o nome das cores correspondendo com a nota que elas produziam. Após um tempo essas correspondências começaram a se tornar uma percepção, natural, cores e notas eram uma só, como uma espécie de sinestesia. Depois de mais um tempo as cores começaram a se tornar sentimentos, Neil tinha cores favoritas e começou a sonhar com cores. Segundo Neil, a partir desse momento ele sentiu que o software e seu cérebro estavam unidos. Neil era um cyborgue.
Com essa percepção Neil se tornou um grande entusiasta das extensões dos sentidos por meio de tecnologias extensas ao corpo, ao cérebro. Em 2010 Neil criou a Cyborgue Foundation, uma fundação que tenta ajudar e encorajar as pessoas a se tornarem um cyborgue Apesar de ser um assunto muito interessante e de grande importância para a inclusão de deficientes na sociedade e para a expansão das tarefas possíveis ao humano, a experiência de se ouvir cores é incrível e abre uma gama de projetos e possibilidades ao homem.
Modificações e Aplicações
Apesar de Neil ser um super ativista da causa dos cyborgues e a aparência visível do eyeborg possa ser vista até como forma de afirmação de sua condição, alternativas que deixassem o produto mais discreto no corpo talvez fossem de interesse de pessoas que sofram da mesma ou de outras deficiências parecidas.
Como resolução desse problema, as frequências poderiam ser enviadas via bluetooth, permitindo a aplicação de outras formas sem ser uma antena. Uma lente por exemplo, com o mesmo sensor de cor, mas que envia as frequências para a estrutura óssea através do bluetooth, ou um Bindi (terceiro olho), localizado na testa, que faria esse papel de sensor.
O uso de objetos mais simples como esses também possibilitaria uma pausa do produto, visto que Neil não pode, em nenhum momento, desligar o aparelho que está diretamente ligado no seu cérebro.
O objeto e o conceito que a invenção de Neil trouxe para o mundo criou diversas possibilidades em que os humanos podem usar do recurso de ouvir as cores para fins de pesquisa, políticas de conscientização, entretenimento etc.
Assim como diz Neil, entrar em um mercado é como entrar numa balada, onde os produtos tem muitas cores e criam uma espécie de música, sinfonia para o ambiente.
Com esse Eyeborg, em uma versão de uso casual, familiar, poderíamos trazer ao humano a experimentação de se ouvir as cores, e senti-las de maneiras diferentes das quais estamos acostumados.
Exposições em que só ouviríamos as cores, em que víssemos os quadros e só pudéssemos senti-los através da audição.
Ou então restaurantes em que pudessem trabalhar as comidas com o som que a produzem, adicionando mais um sentido a alimentação que abrange todos os sentidos, porem pouco pela audição.
Ou shows em que em vez de instrumentos, músicos tocassem cores, que revelassem o som para a plateia.
Ou um parque de diversões onde seus sentidos e emoções são totalmente ditados pelo clima que as frequências das cores causa.
Outra aplicação revolucionaria e que abriria diversas possibilidades é a capacidade de ouvir cores que o humano convencional não enxerga como infravermelho ou o ultravioleta. Neil já adicionou essa função ao seu Eyeborg, porem imagine a contribuição que ela teria para a sociedade como um todo. No Brasil por exemplo, o câncer de pele é responsável por 30% dos tumores identificados em um ano e isso se dá a exposição da população a altas taxas de raios ultravioletas. Imagine uma campanha, contra o câncer de pele, onde, por meio do som, enxergássemos os níveis de ultravioleta no ar e víssemos o impacto no nosso corpo. Seria muito impactante e instigante ao humano de conseguir reproduzir de alguma forma, uma cor que até então só conhecemos nos livros de biologia.
Então, como principal modificação para o Eyeborg de Neil, seria na verdade, a democratização do conhecimento, não só para deficientes visuais mas para pessoas "normais", que podem aproveitar e expandir suas percepções sobre os sentidos. Afinal, como dito por ele: "Nós devemos pensar que o conhecimento vem dos nossos sentidos, assim, se ampliarmos nossos sentidos, nós vamos, consequentemente, ampliar nosso conhecimento. "
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